Dia Internacional da Mulher inspira crônica assinada pela escritora Mabel Amorim


As feministas que me perdoem mas esse papo que mulheres são iguais aos homens é pura conversa.

Somos diferentes, pensamos diferentes, sentimos diferente, falamos diferente. Temos uma maneira diferente de rir, olhar, conquistar, amar, urinar, sentir prazer.

Gostamos de divagar, conversar, ouvir histórias, aconselhar, chorar, experimentar roupas novas, bater papo na cozinha.

Amamos novidades, brilho, cores, chocolate, batons, brincos, colares, sapatos, e ainda assim simplesmente a-d-o-r-a-m-o-s vestir uma camiseta velha, um jeans gasto e um par de tênis e desfilar displicentemente por lugares apinhados de gente.

E sai da frente se estivermos na TPM. Fervilham hormônios, o corpo incha, a cabeça dói, os olhos ficam estreitos e ferozes e palavras ácidas são atiradas para todos os lados. São dias de terror.

Somos mais sensíveis, não mais choronas. É que devido à retenção de água que ocorre no organismo quando estamos “naqueles dias” surge a necessidade de eliminar o excesso, daí a profusão de lágrimas que vertemos.

Somos ainda as guardiãs da vida, receptáculos divinos da criação, capazes de abrigar em nosso próprio corpo a gênese do homem. Defendemos nossas crias com garras afiadas e as amamos tão intensamente como se elas fossem desaparecer para sempre no segundo seguinte.

Gostamos de nos sentir protegidas para compensar porque, conscientemente ou não, nossa missão eterna é a proteção e o cuidado com os outros: cuidamos das amigas que foram magoadas, dos companheiros estressados ou doentes, dos pais idosos a quem lhes falta atenção, dos filhos que querem colo, ainda que tenham crescido o suficiente para não caberem mais nele. E da limpeza do lar, do alimento, das tarefas da escola das crianças, da febre da caçula, do dor de cotovelo da mais velha, do machucado do pequeno atleta, da nota baixa, do dono da voz angustiada que grita mamãe ao acordar de um pesadelo noturno e nos faz correr para sua cama na velocidade da luz e com o coração quase paralisado de susto.

Somos diferentes mas isso não faz nenhuma diferença quanto ao direito de sermos respeitadas como pessoas e profissionais. É dessa diferença que as relações se equilibram, se completam, se encaixam e revelam sua beleza e sua funcionalidade, cada qual com seus talentos e suas carências, como um caleidoscópio criando belas imagens apenas com fragmentos coloridos.

São esses seres tão diferentes, que sangram, que parem, que choram, que amam, que se doam, que lutam, que sonham, que sofrem e que sabem tão bem o significado das palavras reconstruir, renunciar, resignar, que recebem o merecido nome de MULHER:

Mais que
Uma
Luz
Há ali uma
Estrela em
Repouso.

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