Artigo | Verônica Oliveira comenta sobre a influência da internet nas relações sociais


As formações sociais que constituem uma sociedade só são possíveis devido a processos de interações entre pessoas e grupos, ou seja, é por meio de uma multiplicidade de influências que o indivíduo acaba partilhando de um sistema social, e essa interação só é possível porque esses mesmos indivíduos se comunicam e compartilham de um mesmo sistema simbólico de comunicação.

Ao observar uma sociedade por um determinado ponto de vista percebe-se que ela comporta uma trama extremamente complexa de comunicações e entendimentos entre seus membros e organizações, que vai do diálogo entre pai e filho até as composições mais complexas e burocráticas de troca de informações. Isso porque os meios de comunicação ocupam um lugar estratégico em uma sociedade. Os avanços, descobertas e inovações na área, tendem a causar sérios impactos não só na sociedade, mas em grupos, instituições e indivíduos.

Com a possibilidade de um modelo de comunicação interativo e dinâmico proporcionado pelos ambientes virtuais, tornou-se lugar comum afirmar que a Internet revolucionou a comunicação. Ao encurtar distâncias e derrubar fronteiras geográficas ela trouxe consigo uma série de mudanças no cotidiano dos seres humanos ao redor do mundo, entre elas está um novo estilo de socialização marcada predominantemente pela virtualização.

Algumas pessoas veem na comunicação via rede, um instrumento indicativo de novos padrões de interação que vai culminar na substituição de modalidades de relações sociais; diferentemente, outras pessoas acreditam que essa forma de comunicação é um fio condutor para um isolamento social. Não vou entrar aqui nessa questão, faz algum tempo que deixei de tentar buscar respostas que se enquadrassem dentro de um ou outro padrão.

Mas diante de tudo isso ainda tem aqueles que se referem à comunicação virtual como uma experiência sem grande importância. Confesso que acho engraçado pessoas se referirem as diversas modalidades ou ferramentas de comunicação via rede, com certo desconhecimento e uma ingenuidade que beira a ignorância.

Não sei por que as pessoas gostam tanto de tomar partido e dar opinião muitas vezes sobre coisas que absolutamente não são capazes de emitir meia dúzia de palavras com um sentido minimamente lógico. E olha que eu falo isso em todos os aspectos. A gente gosta de dar “pitaco” em tudo! Olha eu aqui dando o meu. Mas voltando a questão da socialização via rede.

A Internet transformou a relação homem e máquina, fazendo surgir uma interatividade quase humana e quase máquina. Dessa forma, os relacionamentos vêem ganhando novos rumos e os seres humanos passaram a viver um modelo de relação social construída a partir de uma perspectiva presenteísta tendo como impulsionadora e geradora dessa situação duas estruturas mecânicas, o computador e a Internet.

Depois de toda uma ação histórica, social e cultural que organizou, controlou e manipulou todo um espaço físico, estamos diante de um processo de desmaterialização do mundo, ou seja, várias situações que só seriam possíveis por meio de suportes materiais, presenças físicas ou condições espaço-temporais, passaram a se inscrever de forma virtual, num espaço que ainda se apresenta, em alguns aspectos, livre das sanções e das regras sociais. O ciberespaço faz parte desse processo de desmaterialização do espaço e de instantaneidade temporal atual. Assistimos, assim, uma grande operação de retranscrições de hábitos e instituições do mundo off–line para o online.

Esses poucos parágrafos registrados acima já são suficientes para se aperceber que a Internet não se resume a uma realidade puramente tecnológica. É preciso que as pessoas, inclusive professores e professoras que também são responsáveis pela formação de opinião dessa sociedade, construam canais de diálogos e estabeleçam discussões que façam com que todos percebam o potencial e influência que essa ferramenta já vem causando na educação, nas formas de consumo, no acesso a informação, na democratização da comunicação, nas relações de trabalho, no acesso aos materiais e bens culturais e como discutido aqui, nas relações sociais, além de tantas outras áreas que foram reconfiguradas a partir da rede. É preciso nos despirmos da ignorância e do preconceito enraizados na nossa história e que nos prendem a convicções que precisam se fluidificarem assim como as relações sociais tão enfatizadas aqui já fizeram na atualidade.

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