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Em meados da década de 90, as redações dos jornais foram tomadas por um novo layout e uma nova forma de se fazer jornalismo, a partir da introdução do computador na redação. A chegada da digitalização, mudou não só os móveis de lugar, mas alterou profundamente a relação do jornalista com seu texto, iniciando, ainda, uma série de mudanças profundas que, a partir de então, chegariam rapidamente ao cotidiano profissional.
Com o advento da internet, o jornalista passou a se relacionar com o leitor de forma mais próxima, enquanto, rapidamente, aprendia a lidar com o aumento contínuo da capacidade de captação, processamento, produção, acúmulo e partilha de informações, de forma cada vez mais rápida. Em tempo, inapercebidamente, a linha divisória entre quem produzia e consumia informação estava se apagando e criando uma espécie de paridade no processo comunicativo, era chegada a horizontalização da difusão da informação.
Todas as mudanças vividas pelo jornalismo e pelo jornalista até então, fazem parte de um leque mais amplo de transformações, que passa a se construir a partir da década de 1970, com a chamada “crise do regime fordista de produção”, que vai acarretar, dentre outras coisas, em mudanças profundas na estrutura produtiva da sociedade. Com a chegada da internet estas mudanças são potencializadas, uma vez que a circulação rápida de informação se tornará um dos sustentáculos da globalização capitalista.
Do ponto de vista das transformações na esfera produtiva no mundo do trabalho, e considerando as redações dos jornais impressos como empresas capitalistas organizadas no sentido de produzir, neste caso, informações, as mudanças mais visíveis ficam por conta do enxugamento das unidades produtivas, aumento da produção, exigência de trabalhadores com múltiplas habilidades, terceirização de parte dos serviços e da precarização dos contratos de trabalho.
Não são novidades para nenhum jornalista as dificuldades enfrentadas por cada um no cotidiano da profissão. As evoluções tecnológicas inseriram novas lógicas de produção da notícia, de se relacionar com as fontes de informação e também com os receptores. Mas parece que algumas empresas, e também profissionais, não conseguiram acompanhar o ritmo das mudanças.
Para alguns pode parecer chocante se aventurar em traçar um paralelo frio entre jornalismo e capitalismo, porém, a flexibilização produtiva coloca hoje muitas empresas contra a parede, tornando a lógica do processo de acumulação flexível algo quase inevitável.
Para a mídia tradicional, a entrada nesse novo regime depende, em grande parte, da adoção de novas ferramentas e estratégias de gestão, assim como a paulatina introdução de ferramentas multimídia. Assim, a nova lógica de produção não visa apenas inserir novas tecnologias na produção e difusão de conteúdo, mas, principalmente, coloca as empresas inseridas dentro de uma nova lógica institucional, instaurando ainda novas rotinas de produção, que modifica, em tempo, o perfil dos jornalistas, e a própria natureza do jornalismo.
Para o naturalista inglês Charles Darwin, na natureza, são os indivíduos mais adaptáveis que sobrevivem, ou seja, não são necessariamente os mais fortes. Essa mesma afirmação vale para o atual contexto do mundo do trabalho. É preciso estar atento às necessidades e desejos do mercado, aos modelos de gestão, a tecnologia, aos hábitos das pessoas e ao padrão que vem se desenhando na sociedade. E esse é um exercício extremamente difícil, tanto para as empresas como para os profissionais, principalmente levando em conta contextos regionais distintos em um mundo que se afirma globalizado.
