Sétima Arte | ‘360’, mais recente filme de Fernando Meirelles, é tema do artigo de Ivã Barbosa Luciano

Sétima Arte | ‘360’, mais recente filme de Fernando Meirelles, é tema do artigo de Ivã Barbosa Luciano

Se Freud fosse roteirista de cinema, certamente '360' seria uma de suas obras. Falo isso baseado no texto 'O mal-estar na civilização', do Pai da Psicanálise, que gira em torno do conflito entre o pensamento das pessoas e as suas ações. E, admitindo Freud como roteirista, por que não pensarmos em uma parceria com o eminente poeta americano Robert Frost, afinal, o longa-metragem, logo no início, indaga ao público sobre qual caminho seguir diante de uma decisão a ser tomada (o que me lembrou do poema 'O caminho não escolhido', do poeta citado).

O cineasta brasileiro Fernando Meirelles, já conhecido nacional e internacionalmente pelos filmes 'Cidade de Deus', 'O Jardineiro Fiel' e 'Ensaio Sobre a Cegueira', dirige o longa '360', que tem como roteirista Peter Morgan e um elenco com grandes nomes, como Anthony Hopkins, Jude Law, Rachel Weisz, Ben Foster e a brasileira Maria Flor. Lançado em 2012, o filme foi produzido em quatro países - Inglaterra, Áustria, França e Brasil -, conta com uma trilha sonora diversificada e é enquadrado no que se chama de 'filme coral', ou seja, não há exatamente uma narrativa crescente de começo, meio e fim bem delimitada.

Quanto ao enredo do filme, percebemos claramente o efeito cascata desenvolvido e as conexões entre as nove histórias inseridas na trama. Sabe o poema 'Quadrilha', de Carlos Drummond de Andrade? “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”, é mais ou menos isso. Sem protagonistas ou antagonistas, o drama começa a partir da contratação de uma prostituta pelo executivo Michael Daily (Jude Law) e se desenrola com um foco nos personagens, caracterizando-os psicologicamente, revelando seus conflitos internos, as situações de tomada de decisão e a luta contra os desejos em razão dos valores morais impostos pela sociedade.

'360' requer um tanto de atenção para que se compreenda o sentido do título que leva e é um filme mais intimista do que os demais longas do diretor, que abordam temas mais abrangentes. Sem grandes locações, a simplicidade faz justamente com que o foco não saia das reflexões e análises psicológicas dos personagens.

A suposição de que é preciso reprimir os impulsos para poder criar uma família, uma sociedade ou até mesmo uma cultura sempre me inquietou particularmente e este filme é exatamente uma reflexão sobre quantas chances teremos caso façamos ou deixemos de fazer tal escolha, “to be or not to be”, frenar o impulso ou se deixar levar. Esse é o conflito de cada personagem e, como cada um se comporta diante disto é um fato a ser revelado apenas ao assistir ao filme.

Assista ao trailer de '360':

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