Artigo | Anatomia da feira de Campina é desafio textual da jornalista e escritora Valdívia Costa

Anatomia da feira de Campina é desafio textual da jornalista e escritora Valdívia Costa

Falar da Feira de Campina Grande nunca é demais. Até porque é obrigação falarmos dela, primeiramente pela sua importância econômica; depois pela sua abrangência territorial, é a segunda maior do Nordeste com moldes tradicionais de comercializar, reunir feirantes e compradores num ambiente plural e diverso; e pela sua história cultural, rica, transbordante de personagens, lugares e estéticas das mais loucas e diversas.

Balaieiro - Figura praticamente em extinção na Feira Central, o balaieiro carrega a feira de verduras e frutas na cabeça, nesse balaio gigante que ele desfila a mostrar pelas ruas centrais da Feira. Hoje, o mototaxista ou até mesmo o taxista o substitui com mais precisão, mas ele dá toda a característica original de livre comércio, onde todos escolhem uma modalidade e negociam serviços, produtos etc.

Business - O livre trânsito de produtos com os quais os feirantes lidam diariamente é intenso e cheio de surpresas. Este comerciante, por exemplo, mistura doces, rapaduras, com alho e alguns CDs para quem não larga o vício da música. O importante para ele é negociar, vender, lucrar, essas coisas...

Criativo - O bom humor, presente na luta diária dos feirantes, também é peça primeira de marketing que eles usam para atrair o cliente. Muitas vezes uma "arrumação" como esta aí chama a atenção e o diferencia de outros milhares que estão vendendo o mesmo que ele. A engenhoca que proporciona sombra só se sustenta pelo saco de cebolas. Talvez uma metáfora da vida do vendedor...

Sounds - Não há quem não resita às news "musicais" das bancas de vinil da Feira. Esse aí, literalmente, pendurou as chuteiras (detalhe acima dele), mas continua abrindo a banca de discos pra quem curte brega, música latina e a fossa. É deprê e retrô demais!

Flores - Do Brejo, do Curimataú, da Borborema... as flores da Feira enchem de perfume e cor as passarelas onde elas estão expostas diariamente. Abelhas de todos os lugares vêm provar no nectar delas. A feira-enfeite da Feira é a de flores, lógico. Muitos são os usos das flores, ensinam as agricultoras vendedoras. Elas vendem sementes pra quem gosta do trato com a terra.

Mercado - Cercado por imensos armazéns do início do século passado, o mercado central é o coração da Feira, onde, a pouco tempo, acontecia o Dia do Rojão com forró pé-de-serra e viola pra todo mundo ouvir. É dentro dele que está o mercado de carnes.

Frutas - As mais doces, coloridas e saborosas frutas estão por todo lugar na grande feira de Campina Grande. Ao redor do mercado central, pelas ruas principais, pela feira de troca... frutas passam em gigantescos balaios que entrecortam a cidade... Uma delícia ambulante!

Para concluir essa ode à Feira, a seridoense Lourdes Ramalho, que escreveu uma peça, 'A Feira', na qual há uma poesia que resume esse complexo das artes de fazer (M. Foucault).

Serra acima ta Campina
Grande é a sua feira
Tem gente de toda classe
da primeira a derradeira.

Tem gente besta e sabida
analfabeto e dotor
Suspirando ombro a ombro
segundo as leis do Senhor.

Uns traz um fardo na cabeça
no balaio, no caçoá
Trouxa, embrulho, saco, cesta
tudo serve é só pegar.

Vem o caminhão roncando
carroceria entupida
De gente que compra e vende
que sofre, mas ama a vida.

Se o pobre traz esperança
escondida na cangalha
Traz o malandro a peixeira
onde a morte se agazalha.

De toda parte chegando
honra e desonra eles tem
Se uns vem pra ser enganado
os que engana também vem.

Noite se faz madrugada
manhã, tarde, anoitecer
Na feira riso é que vida
gemido que é morrer.

Valdívia Costa 
Fez o texto e fotos que ilustram este artigo. É jornalista e autora de e-books, publicou biografia e é blogueira premiada no Top Blog desde 2009 pela militância cultural no De acordo com. É especialista em Comunicação e Educação e atualmente é assessora do Sebrae Paraíba.
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