Lola Araújo relata emoção de presenciar a aula espetáculo proferida por Ariano Suassuna em CG


Eu adoro escrever. Às vezes nem sei definir ou enquadrar meus escritos. Se crônica, poema, “causo”, “estórias da carochinha”, artigo... Sei lá... Mas uma certeza tenho: gosto de escrever e gosto do que escrevo. Sem falsa modéstia, é assim que me relaciono com meus escritos. De forma que, sempre que algo, algum evento ou alguém me chamam atenção eu registro escrevendo. É essa minha maneira de expressão mais verdadeira, a que mais se assemelha ao meu jeito de ser.

O motivo das palavras de hoje é, nada mais nada menos, que Ariano Suassuna – Escritor Paraibano, de Taperoá, que tanto admiro e que tive o prazer de conhecer pessoalmente esta semana. Presenciei uma aula espetáculo proferida por ele, quando da inauguração do Teatro do Colégio Motiva, que recebeu seu nome. Nada mais interessante do que homenagear em vida um escritor de seu quilate.

Ouvindo Ariano falar, depois de ser aplaudido de pé pela platéia, pelo simples fato de adentrar ao recinto, o que me fez arrepiar, literalmente, e derramar algumas lágrimas, no que fui chamada a atenção por minha filha “– Mainha, não vejo ninguém chorar, só tu...”, continuei a me emocionar e isso se entendeu às horas que se seguiram ao espetáculo, indo pra cama com uma sensação de que havia realizado mais um sonho. E que sonho! Ver pessoalmente um ídolo, e ratificar tudo o que imaginava ao seu respeito.

Feliz em saber que, como eu, aquela figura inenarrável, a despeito de eu estar aqui tentando narrar o que penso dela, gosta de gente. E não poderia ser diferente; os tipos que descreve em suas estórias revelam justamente isso – um bem querer aos tipos de gente que existem e que fazem o Brasil ser o que ele é, uma multiplicidade sem fim.

Meu choro e riso se confundiam, enquanto ele falava e Talitta além de rir pelo que ouvia dele, também o fazia por me ver desaguar. E sempre a ressaltar que mais ninguém ali, além de mim, chorava. Vai ver que sou um dos tipos que Ariano enxerga na vasta possibilidade de sermos humanos – o tipo chorão, que apesar das diferenças gritantes em relação ao Chorão morto esta semana, se assemelha ao mesmo no sentido da expressão da palavra. Eu gosto muito do que aquele menino Chorão deixou escrito e cantado.

Algo que me chamou atenção na fala do escritor foi a afirmação de que todo escritor é um mentiroso. Não há como escrever sem inventar, sem aumentar, sem realçar cores, sem chamar atenção, fazendo de detalhes sutis algo capaz de saltar aos olhos. E achei interessante ele ressaltar que entre os tipos de mentirosos existentes, o escritor é o “mentiroso de Deus”. Que metáfora linda! Que jeito maravilhoso de esclarecer que existem mentiras e MENTIRAS e que não há como se safar delas. Há sim, e ele o faz muito bem, como se aproveitar das mesmas, trazendo-as pro campo da verdade, ao passo que se tornam ferramentas para o entendimento de tudo o que é humano.

O que mais fez este escritor tão querido, como ele mesmo se diz, foi contar causos. E a cada um que contava, revelava sua visão de mundo, marcada por hábitos interioranos e que compõem sua identidade cosmopolita. Cada personagem citado enaltecia a simplicidade, mas de uma maneira rebuscada de inteligência e conhecimento de si, dos mesmos e do mundo. Um homem que transita entre o particular e o geral de maneira notável. Eis aí o que me parece ser este conterrâneo. E se não abro mão de ressaltar sua paraibanidade, não é por ter apego egoísta ou desconhecer que não somos de lugar nenhum, ao passo que somos de todos os lugares. Mas pra esclarecer aos de visão turva ou deturpada, que talvez nem leiam meu texto, mas que não deixam de ser potenciais leitores, que a Paraíba tem muito a oferecer, como este escritor tão querido, que afirma que não deve ser o melhor escritor, mas que tem certeza de ser o mais querido. Que sabe o quanto o Brasil o ama. E eu digo mais: quando o Brasil o ama, esquece que ele nasceu na tribo dos cabeças chatas, como Chico Cezar, que esteve na platéia e que, além de maravilhoso compositor, cantor, músico, é também secretário de cultura deste lugar, desta Paraíba de quem só fala mal quem a desconhece. E discurso preconceituoso só deve ser levado a sério para ser combatido, nunca assimilado.

Ariano Suassuna é sim, Paraibano, e não pernambucano, como muitos pensam. Nasceu em Taperoá, Cariri paraibano e estudou em Campina Grande, no Colégio Alfredo Dantas, quando ainda se chamava Instituto Pedagógico. Como foi morar em Recife e chegou a ser secretário de cultura, muitas pessoas pensam que nasceu naquele estado.

Independentemente do lugar onde nasceu Ariano é gente. E gosta de gente. E escreve justamente por este motivo. É brasileiro amado por todos, inclusive os que desconhecem suas origens e nem imaginam que a Paraíba possa dar tão belos frutos, como ele, Chico Cezar, Assis Chateaubriand, Jackson do Pandeiro, Augusto dos Anjos, José Américo de Almeida, Elba e Zé Ramalho, João Pessoa, João Suassuna, Epitácio Pessoa e tantos outros nomes de peso no cenário cultural do nosso país.

Ele que, sem ser bom de voto, como destacou, e que foi escolhido por 83% dos votos de professores, alunos e funcionários da escola que abriga o teatro, numa quase unanimidade, faz jus à homenagem e ao amor que lhe é dedicado. De minha parte, esta crônica é a maneira que encontrei de comungar esse amor. Amor que faz sorrir e faz chorar com a mesma intensidade, porquanto vem do âmago, onde o sentimento que se revela nas palavras nasce e se enraíza.

“Só sei que foi assim”: Um turbilhão de emoção tomando conta do meu ser, mas sem encobrir aquilo que se revelava mais e mais, ao ouvir o meu ídolo, que, embora tendo “a voz muito ruim”, fala sua, jamais será inaudível, enquanto a palavra escrita existir.

Vida longa a Ariano Suassuna e a tudo o que ele representa!

Lola Araújo (10/03/13)
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