Bruno Gaudêncio debate sobre as comemorações do aniversário de 150 anos de Campina Grande


Há alguns meses o dramaturgo campinense Aluizio Guimarães advertia via Facebook a completa ausência de preocupações por parte do poder público com a aproximação das comemorações dos 150 anos de emancipação política da cidade de Campina Grande. Reconhecida por sua importância política, econômica e cultural ao longo do século XX no Brasil, Campina Grande elevou-se a categoria de cidade em 11 de outubro de 1864, portanto, há quase 148 anos atrás. De lá para cá o município conquistou um espaço privilegiado graças ao seu empreendedorismo e espírito inovador de sua população.

Em 1964, Campina Grande fez 100 anos de emancipação política, comemorado numa grande festividade, que envolveu uma imensa mobilização social, desde as camadas mais prósperas da sociedade até as comunidades mais humildes. Nesta lógica, desde nos anos finais da década de 1950, a sociedade civil, juntamente com os poderes públicos, se organizaram na tentativa de aparelhar uma grande festa, e mais do que isso, criar mecanismos de valorização da história, da memória e da cultura do município.

Neste contexto, durante a gestão do prefeito Newton Vieira Rique, foi autorizado pela lei nº 91, de 29 de abril de 1964 a Comissão Cultural do Centenário, formado por um grupo de intelectuais reconhecidos por suas colaborações para a história e a cultura do município. Foram eles: o médico e historiador Elpídio de Almeida (Presidente da comissão); o médico e poeta Severino Bezerra de Carvalho, o poeta Raymundo Asfora, o historiador José Elias Borges e a professora Maria de Lourdes Passos. O objetivo desta comissão foi mostrar “algo da vida cultural de Campina Grande”, possibilitando um vasto programa editorial, no ano de seu I Centenário.

Entre as iniciativas da Comissão Cultural do Centenário, houve a publicação de diversos impressos, entre livros e revistas, de autores campinenses. De 1964 a 1966, dezenas de publicações foram realizadas, a exemplo da “Obra Poética”, de Félix Araújo; a segunda edição de “Horas de Enlevo”, de Mauro Luna (considerado o primeiro livro de poesia editado em Campina Grande, de 1924); “Jornal de Arte”, de Rubem Navarro (obra até hoje sem uma segunda edição); a “Coletânea de Autores Campinenses”, entre outros livros.

De todos os lançamentos previstos no projeto da Comissão Cultural não podemos deixar de destacar a publicação da Revista Campinense de Cultura. De outubro de 1964 a junho de 1966 foram lançados oito números. Nas páginas desta revista, os mais eminentes nomes da arte e da cultura campinense, entre escritores, juristas, jornalistas, cineastas, estiveram presentes, com ensaios, poemas, artigos, depoimentos. A Revista Campinense de Cultura ainda ganharia mais duas séries de publicações: uma em abril de 1976 e outra outubro de 1978, chegando assim a dez números.

Diante do contexto histórico de 50 anos atrás e comparando com o cenário atual em que Campina Grande se encontra, urge a necessidade imediata de mais publicações como estas, - de uma política editorial no município e da organização de uma Comissão Cultural para as comemorações dos seus 150 anos de emancipação política, a ser realizada em outubro de 2014.

Nas últimas décadas praticamente inexistiu uma preocupação firmada quanto à valorização da memória cultural da cidade (seja ela tangível ou intangível), - o que insere tanto o Patrimônio Histórico e Cultural das nossas edificações, registros ligados a cultura popular, quanto à publicação de obras de natureza literária e historiográfica dos nossos autores. A exceção foram algumas iniciativas particulares, no campo editorial. Podemos citar como exemplo máximo o professor português Antonio Soares, que durante a década de 1990 e os primeiros anos do século XXI, através das Edições Caravela, possibilitou a publicação e a republicação de vários autores chaves e livros esgotados caros a nossa tradição histórica, como Epaminondas Câmara, Cristino Pimentel, entre outros.

Um vento de esperança soprou nestes últimos anos com a recriação do Instituto Histórico e Geográfico de Campina Grande, realizado este ano, sob a iniciativa da administradora Maria Ida Steinmuller e a professora Juciene Ricarte Apolinário (atuais presidente e vice-presidente da instituição). Ainda em estruturação, o recém recriado instituto que terá sede na Estação Velha, em Campina Grande, poderá mobilizar os poderes no sentido de melhor implementar uma política pública de valorização da memória, o que insere evidentemente uma preocupação com a publicação ou republicação de livros literários e historiográficos sobre a cidade de Campina Grande.

Outro vento de esperança que sopra em nossa cidade foi à lei municipal que criou recentemente na Câmara Municipal de Campina Grande (graças à luta constante e febril dos artistas locais), o Conselho Municipal de Cultura, - que deverá ser formado nos próximos meses, com a presença maciça dos nossos artistas locais. Esperamos que entre outras preocupações, o conselho debata o tema da memória cultural do município e a possível formação (quem sabe), da Comissão Cultural do Sesquicentenário de Emancipação Política do Município.

Em plena campanha eleitoral para prefeito desta cidade acreditamos que o tema das comemorações dos 150 anos de emancipação política de Campina Grande possa estar presente nas pautas eleitorais dos prefeitáveis (já que faltam apenas dois anos para a data comemorativa), - já com indicações claras e evidentes quanto às ações ligadas a cultura e a história do município nestes próximos anos, pois Campina Grande precisa escrever de uma maneira firme nos seus “cadernos da memória” um capítulo legítimo e coerente dentro do espírito de “grandeza” que seus habitantes tanto clamam.

Foto: Marcus Nogueira.

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