Artigo | Psiquiatra João Adolfo Mayer fala sobre sintomas e tratamentos da Síndrome do Pânico


A palavra "pânico" deriva-se do grego "panikon" que tem como significado susto ou pavor repetitivo. É uma entidade clínica recente e era antigamente chamada de neurastenia cardiocirculatória ou doença do coração do soldado, embora a primeira descrição sintomatológica tenha sido feita por Freud, que a classificou como neurose ansiosa. Até 1980, o quadro foi agrupado sob o título de "neurose de ansiedade" e atualmente este mesmo grupo foi subdividido em “Doença do Pânico”, “Transtorno de Ansiedade Aguda” e “Transtorno da Ansiedade Generalizada”.

As diferenças clínicas, razão pela qual derivou a subdivisão do grupo em Reações de Ansiedade Aguda e Transtorno do Pânico (TP), residem no fato de que os "fatores geradores da primeira" são motivados por agentes externos ao indivíduo que ameaçam de forma clara e consistente a vida cotidiana dele enquanto que na "síndrome de pânico" o agente, acontecimento ou situação externa desencadeadora freqüentemente encontra-se ausente. A crise tem caráter súbito e a ameaça, poderíamos dizer, de forma simplificada, está dentro do próprio paciente (endógena).

O Transtorno de Pânico se faz acompanhar de sintomas como inquietação ou mal estar interior (ansiedade), boca seca, aceleração dos batimentos cardíacos, palpitações, palidez, sudorese e falta de ar, opressão pré-cordial, sensação subjetiva de parada cardíaca, medo de desmaiar ou de morte súbita, sensação de formigamento pelo corpo, ondas de calor, intenso desconforto interior, pavor que a crise volte a se repetir aparecem abruptamente e alcançam o pico em cerca de 10 minutos. O TP tem caráter repetitivo, episódico em suas crises (manifestações dos sintomas). É de suma importância salientar que por desconhecimento do que caracteriza o TP, muitos portadores deste enfermar não buscam ajuda médica, em particular de um especialista médico (psiquiatra), o que determina a demora no diagnóstico e tratamento com o conseqüente e indesejável desenvolvimento das complicações.

A grande maioria dos pacientes portadores de TP, devido a predominância dos sintomas ligados ao aparelho cardiovascular, são atendidos em pronto-socorros, consultórios cardiológicos ou de outras especialidades médicas e medicados muitas vezes com fármacos que não são capazes de bloquear as "crises ou ataques de pânico". A medida as crises se sucedem, sem que os pacientes observem melhora, os leva a insegurança e ao desespero. São realizados inúmeros exames sem se chegar a uma conclusão diagnóstica sendo os sintomas atribuídos a situações genéricas como estafa, estresse nervosismo, fraqueza ou excesso de trabalho.

Quanto a etiologia da Síndrome de Pânico atualmente são consideradas três hipóteses básicas:
- Hiperatividade ou disfunção de sistemas ligados aos neurotransmissores (substâncias responsáveis pela transmissão do estímulo nervoso entre as células do Sistema Nervoso Central (SNC).
Alteração ainda não bem determinada ou esclarecida na sensibilidade do SNC ,as mudanças bruscas de pH e concentrações de CO2 intracerebral.
Fatores genéticos

Pesquisas realizadas nos EUA demonstram que para cada 1000 indivíduos cerca de 1 a 3 são afetados pelo TP. No Brasil, infelizmente, as estatísticas são inconclusivas. Ocorre sobretudo em adultos jovens na faixa etária entre 20 e 35 anos de ambos os sexos, com predileção pelo feminino na proporção de 3:1. Nesta faixa etária os pacientes estão na plenitude de seu potencial de trabalho e ao apresentarem a doença são geradas conseqüências desastrosas voltadas tanto para o desenvolvimento profissional quanto social.

O Transtorno de Pânico não decorre do uso de substâncias como: álcool, cocaína, crack, cafeína, ou de condição médicas, tais como disfunção da válvula mitral, hiper ou hipotiroidismo, hipoglicemia, insuficiência coronariana, arritmias cardíacas, feocromocitoma, Fobia Social entre outras. Daí a importância do diagnóstico diferencial com outras enfermidades da clínica médica e da Psiquiatria.

As complicações decorrentes dos repetidos ataques de pânico induzem a gastos excessivos por parte dos pacientes com médicos e exames complementares, muitas vezes dispensáveis. Afastamento do trabalho, faltas, impossibilidade de aceitar promoções (por medo de assumir maiores responsabilidades) e até pedidos de demissão são situações corriqueiras na vida destes pacientes, sobretudo se o TP não é diagnosticada precocemente e vem acompanhada de agorafobia (medo de frequentar lugares públicos e abertos). Somando-se a estes fatos há uma deterioração econômica progressiva e as sucessivas recusas a convites geram afastamento e perda dos contatos sociais.

No que tange ao relacionamento familiar, o paciente recebe inicialmente os cuidados dos parentes mais intimamente envolvidos. Após várias "peregrinações" a consultórios médicos, onde os exames insistentemente não demonstram patologia palpável, esse paciente passa a ser alvo de críticas desferidas não só pela família como também de amigos que, lamentavelmente, só contribuem para o agravamento da situação.

Tratamento da Síndrome do Pânico
É fator primordial no início do tratamento o diagnóstico precoce e diferencial de TP e o efetivo bloqueio dos ataques ou redução na sua freqüência e intensidade, através do uso de medicamentos tais como antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores do Humor e de Psicoterapia concomitante. É necessário que se estabeleça uma boa relação médico-paciente, um vínculo terapêutico e de informação. O conhecimento pelo paciente de sua doença, evolução, efeitos colaterais ou adversos, possíveis das medicações usadas, necessidade do uso das mesmas ,o ajuste da dose capaz de bloquear os ataques terá que ser feito) pelo tempo necessário para o controle dos sintomas é imperativo.

Há grande controvérsia quanto ao tempo necessário para manutenção do tratamento. Grande parte dos Psiquiatras admitem ser a duração ideal do tratamento entre 6 meses a dois anos com posterior suspensão gradativa dos fármacos e reavaliação se os ataques de pânicos voltaram a ocorrer. Apesar de adotados estes critérios o índice de recaída após a suspensão da droga varia entre 20 e 50%.

O paciente deve ser informado de que o início da melhora da sintomatologia pode levar algumas semanas e depende do ajuste das doses necessárias para o bloqueio das crises de Pânico, assim como de sua fiel adesão a terapêutica instituída. Este fato deve ser bem esclarecido ao paciente para que o portador de TP não fique ansioso ou deprimido com a expectativa de melhora imediata.

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