Artigo | Psiquiatra João Adolfo Mayer aponta as principais diferenças entre tristeza e depressão


Não. O ficar triste faz parte do dia a dia da pessoa normal. Depressão é uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas entre os quais a tristeza não necessariamente se faz presente. Quando se apresenta, no entanto, assume um caráter patológico de intensidade, duração, ausência de uma condição motivadora ou desproporção da vivência depressiva à situação existencial a ela associada.

A depressão, em sua manifestação clássica, pode apresentar alguns dos seguintes sintomas: insônia ou sono excessivo, irritabilidade fácil, falta de concentração, retraimento social, sentimentos de desamparo, desânimo para realizar atividades corriqueiras e diminuição do desejo sexual. Pode, ainda, ocorrer desesperança, incapacidade para vivenciar momentos felizes, pessimismo exagerado, idéias negativas, lentificação do pensamento, falta ou aumento do apetite e tristeza patológica, entre outros. Em casos graves podem surgir idéias suicidas, idéias de ruína ou auto-recriminações infundadas.

É possível que a depressão assuma a forma de equivalentes depressivos como fraqueza, dor crônica generalizada, dores na coluna vertebral, perda de peso, fadiga fácil ou insônia rebelde. Nesse caso a tristeza patológica não se faz presente. Como existem enfermidades orgânicas, também ditas somáticas, que apresentam os mesmos sintomas, é necessário que o médico psiquiatra estabeleça um diagnóstico diferencial.

Quadros depressivos algumas vezes se associam a diversas enfermidades do âmbito da medicina, ao uso de alguns medicamentos, de outras substâncias ou situações. Podem ocorrer, por exemplo, em portadores de enfermidades da tireóide, lúpus eritematoso, insuficiência da supra-renal ou doenças infecciosas; em pacientes submetidos a quimioterapias ou que fazem uso de corticosteróides, contraceptivos orais, anti-hipertensivos, analgésicos, usuários de bebidas alcoólicas ou no pós parto; ainda em doenças como esquizofrenia, distúrbio bipolar, esclerose múltipla, vasculopatia cerebral, Parkinson ou enfermidade degenerativas cerebrais, entre outras.

A depressão é considerada um fator de risco para diabetes melito tipo 2, hipertensão arterial, baixa das defesas imunológicas e câncer.

Quanto ao tratamento da depressão, é de suma importância que o médico psiquiatra determine a sua causa. Estando ela acompanhada de quadro clínico de enfermidade orgânica, o tratamento deve ser feito pelo psiquiatra em parceria com o clínico generalista ou o especialista na enfermidade somática de base. A depressão é atualmente tratada com psicofármacos (antidepressivos e estabilizadores de humor) associados à psicoterapia, quando indicada. Mesmo com a remissão dos sintomas, o tratamento farmacológico deverá ser mantido, a critério do médico psiquiatra, por um período de seis a doze meses.

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