Psiquiatra João Adolfo Mayer comenta sobre as sequelas emocionais de um evento traumático


A mídia diariamente divulga atentados terroristas, guerras, cataclismos diversos, assassinatos violentos, assaltos brutais à mão armada, estupros, sequestros que assumem formas variadas, espancamentos cruéis de pessoas, atentados a bomba, acidentes de trânsito e aéreos terrificantes, naufrágios que muitas vezes resultam em morte, ameaça de morte ou lesões corporais severas. Uma pergunta paira no ar: como reagem e quais as consequências emocionais ou sequelas que apresentam aqueles indivíduos que vivenciaram ou testemunharam diretamente e de forma objetiva esses eventos traumáticos?

O tema aqui exposto tem sido alvo de estudo da psiquiatria contemporânea, que subdividiu as reações e conseqüências emocionais apresentadas por parcela significativa dos indivíduos expostos a uma vivência traumática (estresse) com características das citadas acima, em dois grupos – “Transtorno de Estresse Pós Traumático” e “Transtorno de Estresse Agudo”. Vale salientar que nem todos os envolvidos na situação estressora desenvolvem reações de caráter patológico, daí a importância de se estudar a influência dos fatores predisposicionais como genéticos, biológicos, psicodinâmica da historia de vida do indivíduo, de suas relações familiares e sociais, bem como circunstâncias ambientais que envolvem o trauma. Em ambos os transtornos, o agente traumático tem características violentas e específicas (morte real ou ameaça de morte; ferimentos graves ou ameaça à integridade física do indivíduo ou de terceiros) e a situação traumática foi vivenciadas pelo indivíduo sob a forma de medo intenso, impotência ou horror.

A maioria das pessoas confunde o “Transtorno de Estresse Traumático” com o “Transtorno de Ajustamento ou Adaptação”. Estes transtornos não são equivalentes, já que no último a vivência traumática (divórcio, separação, perdas em geral, desemprego, entre outros) é de natureza e especificidade diferente da do primeiro, sendo também diferentes os sintomas desencadeados. Aqui enfocaremos os aspectos diferenciais do Transtorno de Estresse Pós Traumático (TETP) e do Transtorno de Estresse Agudo (TEA).

No TEPT, são com frequência mencionadas recordações aflitivas e recorrentes do evento traumático sob a forma de flashbacks, bem como sonhos inquietantes, repetitivos, cujo conteúdo versa sobre a situação estressora. Agir ou sentir como se o fato estivesse ocorrendo novamente, quando da exposição a indícios que lembram alguns aspectos do agente traumático,desencadeando assim sofrimento intenso e reatividade fisiológica (taquicardia, sudorese palidez, tonturas, tremores). Esquiva persistente aos estímulos associados ao trauma, entorpecimento ou falta de reação emocional, limitação dos interesses, isolamento social, sensação subjetiva de estranheza de si e do mundo circundante, dificuldade em conciliar ou manter o sono, ansiedade, irritabilidade fácil, crises de choro, picos depressivos, deficiência de capacidade de concentração e respostas de sobressalto exageradas a determinadas situações são também mencionados.

Os sintomas que compõem o TEPT têm duração superior a um mês, podendo em alguns casos haver uma cristalização dos sintomas expressa numa não remissão dos mesmos, causando sofrimento significativo e prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

Já no TEA, o paciente apresenta os aspectos clínicos do TEPT, em menor intensidade, juntamente com sintomas dissociativos evidentes tais como estreitamento da consciência, que acarreta dificuldade de lembrar a situação traumática com detalhes e a sensação subjetiva de tê-la vivido em um sonhar acordado. O TEA tem duração mínima de dois dias e máxima de quatro semanas, e na maioria dos casos há uma remissão espontânea dos sintomas.

Salientamos que portadores de Transtorno de Estresse Traumático com sintomatologia leve e moderada reagem bem ao tratamento psicoterápico focado no trauma e ao uso de antidepressivos e ansiolíticos. Já quando os sintomas são intensos e duradouros, mesmo submetidos a tratamento, há o risco do quadro clínico desse enfermar vir a se tornar crônico e irreversível, com severas conseqüências emocionais, cognitivas, de trabalho e das relações interpessoais, expressões de sequelas intensas que acometem o paciente.

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