A melhor época do ano para Orlando Ângelo


Todos os anos, passo o Natal em Piancó. Apesar do misto de alegria e tristeza que sinto, para mim essa é a melhor época do ano. Alegria, porque o Natal, na minha opinião, significa, acima de qualquer outra coisa, família, emoção, reencontro. Tristeza, por já não ter minha querida e santa mãe entre nós. Nem as lembranças e o apoio espiritual compensam sua falta, mas é preciso estar presente lá, como forma de entender sua ausência.

Além de emoção, o Natal me traz belas recordações dos tempos de criança, quando passam em minha memória todos os momentos felizes vividos na infância simples, desprovida, muitas vezes, de bens materiais, mas repleta do amor e do carinho dos meus pais. Canções natalinas saíam do rádio chiando e do alto-falante “A Voz do Município”. Músicas puras como a neve que nunca caía.

Não há como esquecer o presépio e a árvore de Natal improvisada com um galho seco de pereiro que meu pai trazia do mato, tão delicadamente ornamentada pela minha irmã Selma e pela minha mãe, com as poucas bolas e enfeites, cuidadosamente guardados do ano anterior, e com capuchos de algodão que simulavam neve naquele Sertão maravilhoso. Uma lata coberta com papel de presente reutilizado servia como ponto de fixação. Enfeites natalinos feitos em casa ornamentavam a mesa e a porta principal. Tudo muito simples, mas carregado de imensurável sentido.

Como esquecer a expectativa da vinda ou não do Papai Noel, apesar de nunca ter lhe escrito uma carta? Quase a noite inteira acordado para vê-lo chegar, mas o bom velhinho só vinha depois que eu adormecia. Dormia sorrindo, na expectativa do dia seguinte. Sempre sonhava em ganhar brinquedos, mas meu pai, sabiamente, insistia em me presentear com canetas, tinteiros, cadernos e livros. Hoje, reconheço o bem que ele me fez. Era inexplicável a alegria de acordar e encontrar o presente em baixo da rede.

Influenciado pela leitura de gibis dos heróis Zorro, Roy Rogers, Búfalo Bill e pelas estórias do pistoleiro Luquinha, que “se encantava” durante as perseguições policiais, queria por que queria receber uma arma de brinquedo, apesar da enérgica desaprovação de minha mãe.
De tanto insistir, uma única vez ganhei um revólver de metal que quebrava espoletas. Foi a maior alegria. Meu primo Zé Napoleão e meu irmão Francisco também receberam presentes iguais. Muitos anos depois, fiquei sabendo que, naquele ano, meu tio Napoleão havia comprado nossos presentes em Campina Grande.

Ainda hoje, fecho os olhos e sinto o cheiro de “bêra seca” (uma espécie de beiju com recheio de doce de gergelim, com muito cravo e pimenta do reino) e das rodelas de pão com pedaços de galinha cozinhada, que meu pai comprava na banca de dona Iria de João Velho, mãe de Xuxuta, colocada na esquina da Farmácia de João Farias. Segundo meu Tio Djalma Ângelo, era dela a melhor banca da festa.

A Praça Salviano Leite, superlotada de pessoas da cidade e dos sítios, formando um verdadeiro formigueiro humano em direção a Matriz de Santo Antonio, onde era celebrada a Missa do Galo. São recordações carregadas de saudosismo de quem viveu muitos natais felizes, em uma época mais romântica.

Sempre incentivei o espírito natalino. Temos a maior e mais bela árvore de Natal que pude comprar e o frontispício e todo o telhado da casa enfeitados com muitas luzes. Agradeço a Deus por isso.

Depois que minhas filhas nasceram busquei ser para elas o Papai Noel que tive na infância. Não só pelos presentes, tantas vezes comprados com enorme sacrifício, mas, principalmente, pelos exemplos de carinho, amor e calor humano que recebi dos meus pais. As fiz acreditar no bom velhinho durante um bom tempo, mas não conseguia fazê-las entender porque muitas crianças nessa noite não recebiam presentes e não tinham, sequer, um pedaço de pão para comer.

Não me considero hipócrita ou alienado, mas não quero pensar nesse mundo mercantilista que vê nesse período do ano a oportunidade para aumentar os seus lucros, onde o público-alvo deixou de ser a garotada. Apesar de tudo, sou otimista. Não acredito que o Natal deixou de ser uma festa cristã. Enquanto houver criança, o espírito natalino nunca se tornará uma lenda urbana. Creio na força do eterno Menino Jesus, que chega até nós com a lição de vida da doação e da partilha com amor.

Já estamos todos de malas prontas, inclusive Tonga (nossa cadelinha). Esse ano, a alegria será maior pois teremos a presença do nosso irmão José, que chegou do Rio de Janeiro. Dia 23, se Deus quiser, estaremos em Piancó, na casa de meu pai, onde cresci e onde sempre esperei Papai Noel. Um Feliz Natal para quem acredita, ou simplesmente, boas festas.
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