Bison Jazz Orchestra arranca aplausos dos campinenses no Severino Cabral


Um grupo de jovens estudantes da Oklahoma Baptist University, nos Estados Unidos, sobe ao palco do auditório do Garden, na cidade de Campina Grande, a terra do Maior São João do Mundo. Eles formam a Bison Jazz Orchestra, atração da noite da última sexta-feira, 21 de maio, no evento promovido pelo Cesed para marcar o início da parceria, que propõe intercâmbios culturais e científicos, com a Georgetown College.

A primeira impressão que fica, assim que os aprendizes aparecem, é uma espécie de timidez compelida por certa paixão não tão segura pelo jazz americano. Rostos nem um pouco amadurecidos. As vestimentas são padronizadas, tentam passar a ideia de grêmio, mas o peso é quebrado com simples pares de tênis. Quanto à intimidade com os instrumentos, não há sinais gritantes de zelo - talvez não tenham idade suficiente para isso. Tremer um pouco, estranhar algumas figuras na platéia lotada, se comportar bem para mostrar respeito com as tradições alheias... Faz parte quando se vem parar no interior do interior do interior do Brasil, que já está no interior do mundo. Enfim, a primeira impressão costuma não durar muito tempo quando o assunto é arte. Mas durou o tempo necessário para conquistar os campinenses rapidamente com carisma involuntário.


Kevin Pruiett - este, sim, intencional - se posiciona para dar início ao show. Ele está no comando da Bison. E agora chegou a hora de deixarmos o palco para avaliar o outro lado. Mais de setecentas pessoas quietas, admiradas com o que viam e, principalmente, ouviam. Então, é isso que chamam de jazz americano? É claro que o contexto não é tão cruel e pitoresco assim. Apesar de imersos no atual calabouço das paradas de sucesso da nossa terra, vez por outra dedicamos alguns momentos para os bons sons. Nem que seja com gostinho de nostalgia, lembrando de vinis antigos, ou até mesmo consumindo produtos prontos, como as seleções molhadas de marketing que formam as trilhas das novelas globais. Digamos que todos saibam do que se trata o ritmo. Funcionando assim, podemos chegar ao ponto crucial dessa resenha: ressaltar a papel de uma iniciativa ousada e valiosa como essa, de trazer o fino da música - mesmo que não lapidado - para os ouvidos de quem pouco tem a chance de apreciá-la com frequência, em alto e bom tom.

Estava ali, bem na frente, uma orquestra de jazz formada por músicos de outro país. Não importa os tênis e a timidez. E por tocar no assunto, voltemos aos jovens da Bison... O repertório, provavelmente definido por Pruiett, caiu ‘acidentalmente’ bem. Mostrou raízes, exemplificou vertentes sutis do gênero e provou que os garotos estavam afiados. Bom saber, e ver de perto, do que eles são capazes (revezar instrumentos e se comunicar direitinho internamente, por exemplo). Dedicação louvável!

Os pontos ultra empolgantes da noite - todos os outros, simplesmente empolgantes - foram protagonizados pela vocalista do grupo. O release encaminhado aos profissionais da imprensa paraibana pela assessoria do Cesed, para divulgar o show, continha a informação de que a Bison Jazz Orchestra “tocou este ano com Kathy Kosins, reconhecida nos Estados Unidos como uma das maiores cantoras de jazz”. Venhamos e convenhamos: o que representa a tal da Kathy Kosins (praticamente anônima, exceto para meia dúzia de publicações especializadas) quando se tem uma Micah McCaslin jogando no seu time? A jovem cantora deu um show à parte. Parece clichê dizer isso, mas é incomum encontrar uma voz como a dela. A primeira interpretação, muitíssimo bem acompanhada pela orquestra, foi Come Fly With Me. De cara, disse a que veio.


A simpática Micah arrancou um “very good” bem nordestino da platéia e respondeu com um ensaiado “brigado”. Descontraiu e ganhou Campina Grande. Mais na frente, hipnotizou novamente com os versos puxados de How Insensitive. No que foi a grande surpresa da noite, a vocalista não se resumiu à versão em inglês de Insensatez e ganhou aplausos carregados de emoção ao cantar, no sempre charmoso português com sotaque internacional, o desabafo de Vinícius de Moraes e Tom Jobim ao “coração mais sem cuidado”. Devida reverência.

Uma hora e quinze minutos passaram voando. Aposto alto como centenas dos que ali estavam foram em busca de um punhado de jazz para consumir logo após. E é justamente esse o intuito da coisa. É esse o mérito dos realizadores do evento em propor e empreender uma ação cultural deste porte. A Bison Jazz Orchestra é uma big band não por reconhecimento ou por grandes feitos, mas pelo que representa.

Por Ed Félix
Foto: Divulgação/Cesed
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